segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O desconhecido


Passeio pelo desconhecido, à procura de algo. Um azul intenso tapa os céus, nem uma nuvem é vista da visão ampla que eu tenho deste infinito quadro que dá cor ao mundo. O sol é invisível. Apenas sabe-se que nasceu porque dá luz ao nada que ali existe. O trigo enche aquele vasto espaço de brilho, um dourado que se reflecte nos olhos de quem tristemente olha para os pés enquanto passeia pelo mato. Vou andando e andando, corro até, aos círculos, parecendo que por mais que corra, não irei bater a sítio nenhum. Não há trilhos, não há caminhos, não há trigo pisado de alguém que possivelmente tivesse passado pelo mesmo que eu. Nada. Não há árvores onde me possa esconder dos monstros que eu imagino com o desespero, não há troncos onde possa descansar a minha alma quando fico com falta de ar, parecendo que alguém me espreme os pulmões e nem deixa entrar nem sair a dor, não há uma flor que pudesse depositar em mim alguma esperança que eu tanto precisava para encontrar a saída, o trigo é demasiado baixo para que eu me possa agaixar e confundir-me com ele. Tento tudo, encontrar tudo e acabo por não ver nada. Por mais que eu corra parece-me sempre estar no mesmo sítio. Existe tanto, tanto espaço e no entanto, ao fim de horas e horas, nem um sítio onde me apeteça ficar. Não há ninguém. Grito por desespero. Grito por solidão. Grito por querer alguém comigo, ali. Grito por socorro. Nem o eco se me faz companhia pois nem as montanhas se existem para fazer a minha voz voltar a encontrar-se comigo. Não existe horizonte. É infinito. Dou volta e voltas a mim própria, vejo tudo a girar com uma rapidez inalcansável e caio. Caio por não aguentar mais esta ansiedade, por querer sair dali, sair desta prisão que não tem paredes, desta prisão que não tem entrada nem saída. Choro. Choro por um dia ter estado fora dali. Choro de saudade. Do mar. Do som de um instrumento. Das pessoas. Mar esse que me roubava o olhar pela manhã ao abrir as cortinas. Som esse que me fazia desaparecer e abraçar as notas de uma canção. Pessoas essas que me cativavam todos os dias com um sorriso sincero. E agora? Estou a meio da secura de um deserto e nem o som do vento se faz ouvir. Sou um ser que vagueia sozinho à procura do nada, quase a cair no erro de desistir e achar a sobrevivência algo de impossível. Limpo as lágrimas que me escorrem pelo rosto mas não consigo contê-las e vão caindo sem que eu queira. Arranjo forças, não sei onde e a partir de quê e consigo levantar-me de novo. Aquele céu que eu no início achei magnífico, agora, mesmo continuando num azul intenso, pintava-o de negro sabendo que não tinha borracha. Não me canso. A raiva invadiu-me de tal maneira que já nem olho direito e pinto com todas as minhas forças aquilo que restava de bonito na minha vida. Chego quase ao fim e páro repentinamente. Olho profundamente à minha volta e começo a rir. Um riso que parecia ser de alguém deprimido, de louco. Quando por fim, me apercebo de que desisti. Levo algum tempo a aperceber-me do quê que desisti pois tinha quase acabado com as últimas cores que pintavam o meu mundo. Olho de novo para o que resta do céu que não cheguei a pintar e sorrio, aliviada. Sorrio por não ter desistido da vida mas sim desistido de acabar com ela. O sol põe-se, e no momento em que atravessa o pouco azul que restou, brilha com toda a sua intensidade, clareando de novo o espaço que é só meu. Dou de novo uma gargalhada mas desta vez sei que é de esperança e rodopio, sem cair. Acordo. Levanto-me e abro as cortinas, vendo o mar que me retribui o meu primeiro sorriso da manhã. Toco levemente no piano que me espera ao lado da cama e voo sobre a melodia que produz. Entra o meu irmão e dá-me um beijo de bom dia e eu não reajo. Fico a observar a lua desaparecer no azul suave da madrugada, procurando ser o brilho da noite no outro lado do mundo e deixando que o sol ocupe o seu espaço. Sorrio. Sorrio por um sonho me ter ensinado que quem pinta o mundo somos nós. Quem lhe dá brilho, somos nós. Sem outros. Sem ninguém. Nós, sozinhos, conseguimos dar vida a cada espaço, seja ele qual for, que estejamos, desde que em cada célula do nosso coração haja esperança e espaço para um sorriso, uma lágrima, um momento de desespero, uma gargalhada de alívio por sabermos que nem a solidão nos faz esquecer que temos a missão de sobreviver e de procurar a felicidade a cada segundo dos nossos dias...