sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Amor


...não posso mais deixar-te ficar comigo, tenho de te deixar, livre e solitário, deixar-te voar pelo horizonte do admirável oceano e deixar-te espalhar por cada gota que o forma. Não quero que mandes mais no que sinto. Vai! Goza a tua liberdade e deixa-me ser eu a escolher o meu caminho. Não quero mais que me procures, pois eu é que te quero procurar agora. Deixa-me vazia, sem ter obrigações para viver, para eu própria poder traçar o meu destino e acender as velas que guiarão o meu caminho, sem necessidade de estares a meu lado a todo o eterno segundo. Vai amor, não te esqueças do meu olhar para que quando eu te encontrar saibas quem sou e trata-me bem quando o fizer em breve. Percorrerei estradas, subirei picos, escalarei montanhas e fico à espera que o consiga sem medo e com bravura, para que te consiga tocar de novo, amor, e alcançar as nuvens. Mas agora, com enorme tristeza minha, tenho mesmo de me despedir de ti porque tornei-te numa necessidade e não num prazer. Não o quero, não te quero rebaixar nem deitar fora o valor enorme que tens, tudo o que transmites. Por isso amor, leva contigo tudo de mim e faz o que te disse. Viverei calmamente e aos poucos vou-te encontrando pelas ruelas em que passar e, como da primeira vez que o fiz, subirei às montanhas e alcançarei as nuvens onde estarás tu em plena força à minha espera.



Escrito a Outubro de 2006

O arco-íris latino


Mares de cores de tons azuis turquesa a bébé e esverdeados à areia de tons brancos como gesso ao castanho escuro. Um arco-íris inventado pela América latina, pelas ilhas de couqueiros e palmeiras a rasgar os céus, pelos animais e plantas exóticas que nelas vivem. Simplesmente fascinante e encantador, de sonho.

O amor de um "ele"


Sozinho a meio da imensidão azul ele vai pensando naquela que o faz feliz. Vai chorando os momentos que passou e desejando que a saudade seja morta e volte a poder abraçá-la. Olhando o horizonte e fechando os olhos com um sorriso, busca todas as recordações que tem, recorda todos os traços da sua cara, tentando descodificar o olhar que ainda vê, profundo e sincero vindo de grandes e expressivos olhos castanhos (sim, vulgares, mas diferentes de todos os outros a seu ver). Respira fundo, leva a mão ao peito e toca ligeiramente na água. Ao fazê-lo lembra o toque suave no corpo da rapariga que o enfeitiçou, quando pela primeira vez a pediu para dançar o slow e ela deslizou por entre os seus abraços e a dança que os uniu tão fortemente. Chama o seu nome levemente, que sobrevoa por entre o ar dos céus e desaparece com um eco pequeno. Apoiando-se na crença do destino, acredita que chegará aos ouvidos dela o facto de ele a amar incondicionalmente e o fim da história acabar num final feliz.



Escrito a Novembro de 2006

Ontem foi, hoje é, amanhã será


A inocência no sorriso de uma criança,

Um abraço apertado e sentido,

Ver as estrelas deitado num relvado imenso,

Passear a cavalo pela praia deserta,

Dar as mãos ao caminhar à beira-mar,

Imaginar um sorriso na Lua cheia,

Sentir o tocar dos lábios duma pessoa amada,

Abraçar o céu sentindo o vento voar suavemente pelo rosto...


São pequenos presentes que nos fazem chorar lágrimas coloridas.Alguns exemplos da lista infinita dos motivos e vantagens para lutar pela vida... Acordar cada dia na esperança de ter um dia melhor que o anterior, aproveitar cada segundo sem desprezar o presente e sonhando com um possível futuro.



Escrito a Março de 2007

Gota salgada

Aquela famosa gota de água salgada que tanto nos atormenta e nos desilude. Aquela pequena porção de partículas designada por "lágrima". A que mostra o nosso estar, a nossa angúsita, medo ou tristeza. Que enche os nossos olhos de brilho e rebenta até a primeira deslizar pelo nosso rosto, sem saber para onde ir, acabando por fim, caíndo lentamente, ao chão. Uma raiva, por vezes, vem juntamente com elas, seguindo-se por dores de cabeça e desespero. Tantas são as razões que nos leva àquele acto que ninguém resiste nem controla, que começa cá dentro no nosso coração e rapidamente eleva até aos olhos, começando a chorar. O vazio que fica cá dentro enquanto o fazemos, é enorme e incontrolável, o aperto no peito é doloroso e as lágrimas vão correndo, fazendo uma corrida até cairem de vez. A cama ou o mar, muitas vezes, é o refúgio de quem está preso pela tristeza, são o remédio que traz a calma e o sossego, como se nos fizessem festas nos cabelos para que parássemos de o fazar. Elas conseguem dominar-nos, mas não totalmente, temos de ser mais fortes e saber parar quando já é demais. Por vezes, nem o é preciso, pois as dores de cabeça já se tornam fortes devido ao esforço e às energias gastas que vamos libertando neste triste acto. Não, não serve só para momentos menos bons. A euforia, os risos e a alegria também entram neste mundo das gotas salgadas, apesar de, na minha opinião, serem em menores quantidades e com meno frequência.

E o ciclo da vida é este. Não é um acto de desespero, mas apenas um alívio, não é um acto de morte, mas sim de saudade, não é um acto de desistência da vida, é apenas o retirar da mágoa, dos pretos e brancos que vão aos poucos entrando secretamente e dolorosamente nas nossas vidas, e recomeçar...






Escrito a Fevereiro de 2006

A última rosa


Num jardim esquecido e abandonado, reinavam as rosas vermelhas, cheias de cor. Maria, uma princesa solidária, que vivia sozinha num palácio, passeava por elas, todos os dias ao fim da tarde, sorrindo e fechando os olhos ao sabor da brisa fresca que passava sobre o seu rosto. O Verão estava a terminar, as folhas das grandes árvores começavam a cair sobre o chão destruído pelas chuvas e ventos de Invernos anteriores. Começavam a desaparecer as cerejas doces, as aves que tinham vindo de longe e que se preparavam para uma nova e longa viagem de regresso, o sol intenso que reinava as tardes de praia... O Outono foi passando devagar e as rosas continuavam brilhantes como sempre e Maria continuava a dar os seus passeios tardios, apesar de agora ser mais ao luar, pois a Lua teimava em querer governar o céu mais cedo. O Inverno estava cada vez mais próximo, até que um dia, quando Maria acordou, foi à janela do quarto à espera de ver as suas rosas lá fora, a única companhia que ela tinha e a única vista que tinha daquele seu cubículo. Para sua surpresa, só viu uma delas, quase quebrada. Durante a noite, havia havido a primeira grande tempestade deste tempo frio. Fez voar as pétalas, soprou com força todas as folhas amarelas e castanhas que estavam no chão após o Outono, passou pelos ninhos dos pequenos pássaros que haviam sido deixados à sua conta e destruiu o único muro que ainda separava aquele "seu" jardim mágico da sociedade. Maria correu desesperadamente até ao portão, agarrada à sua saia comprida para não tropeçar. Ao chegar à última rosa que lá restava, tocou nela cuidadosamente para que não se quebrasse o tronco fino que ainda a mantinha viva. Deitou uma lágrima que caiu na rosa fraca. De repente pareceu-lhe que o mundo tinha acabado, que aquela era a única esperança que ela tinha de ser feliz, era o motivo pelo qual sorria todas as tardes à luz do dia no verão e do luar no inverno. Por mais difícil que fosse, ela tinha de mantê-la de pé, tinha de lutar pela sua felicidade. A partir dessa dia, começou a passar todo o seu tempo com ela, regá-la, tocá-la com cuidado e chorando de alegria cada vez que uma das pétalas renascesse. Construiu uma pequena estufa para a sua pequena e última rosa do jardim, que a protegia dos impactos da chuva grossa e dos sopros dos ventos fortes. Quando finalmente chegou a Primavera, quando apareceram os primeiros arco-íris que pintavam os céus, que Maria acreditou no seu trabalho, acreditou em si. Maria apercebia-se que, com o esforço que ela havia feito e dedicação que tinha dado, começaram a surgir novas roseiras. Foi a sua força de vontade que a fez nunca deixar de acreditar que no seu objectivo. Foi a sua determinação que a fez ver que nada está perdido quando só resta uma rosa quebrada no jardim. Foi a sua esperança na felicidade que a fez dar tanta dedicação e lutar por aquilo que a ela lhe pertencia. Foi só aí, quando começou a acreditar em si, que conseguiu sair daquelas paredes do seu Palácio e se entregar à sociedade, encontrar o seu grande amor e construir uma família... Afinal, as últimas rosas, nem sempre são aquelas que nos fazem deitar mais lágrimas, podem até nos picar muito mais, mas acabam por ser uma entrada para um grande passo noutro tipo de jardim...
Escrito a Fevereiro de 2006