Num jardim esquecido e abandonado, reinavam as rosas vermelhas, cheias de cor. Maria, uma princesa solidária, que vivia sozinha num palácio, passeava por elas, todos os dias ao fim da tarde, sorrindo e fechando os olhos ao sabor da brisa fresca que passava sobre o seu rosto. O Verão estava a terminar, as folhas das grandes árvores começavam a cair sobre o chão destruído pelas chuvas e ventos de Invernos anteriores. Começavam a desaparecer as cerejas doces, as aves que tinham vindo de longe e que se preparavam para uma nova e longa viagem de regresso, o sol intenso que reinava as tardes de praia... O Outono foi passando devagar e as rosas continuavam brilhantes como sempre e Maria continuava a dar os seus passeios tardios, apesar de agora ser mais ao luar, pois a Lua teimava em querer governar o céu mais cedo. O Inverno estava cada vez mais próximo, até que um dia, quando Maria acordou, foi à janela do quarto à espera de ver as suas rosas lá fora, a única companhia que ela tinha e a única vista que tinha daquele seu cubículo. Para sua surpresa, só viu uma delas, quase quebrada. Durante a noite, havia havido a primeira grande tempestade deste tempo frio. Fez voar as pétalas, soprou com força todas as folhas amarelas e castanhas que estavam no chão após o Outono, passou pelos ninhos dos pequenos pássaros que haviam sido deixados à sua conta e destruiu o único muro que ainda separava aquele "seu" jardim mágico da sociedade. Maria correu desesperadamente até ao portão, agarrada à sua saia comprida para não tropeçar. Ao chegar à última rosa que lá restava, tocou nela cuidadosamente para que não se quebrasse o tronco fino que ainda a mantinha viva. Deitou uma lágrima que caiu na rosa fraca. De repente pareceu-lhe que o mundo tinha acabado, que aquela era a única esperança que ela tinha de ser feliz, era o motivo pelo qual sorria todas as tardes à luz do dia no verão e do luar no inverno. Por mais difícil que fosse, ela tinha de mantê-la de pé, tinha de lutar pela sua felicidade. A partir dessa dia, começou a passar todo o seu tempo com ela, regá-la, tocá-la com cuidado e chorando de alegria cada vez que uma das pétalas renascesse. Construiu uma pequena estufa para a sua pequena e última rosa do jardim, que a protegia dos impactos da chuva grossa e dos sopros dos ventos fortes. Quando finalmente chegou a Primavera, quando apareceram os primeiros arco-íris que pintavam os céus, que Maria acreditou no seu trabalho, acreditou em si. Maria apercebia-se que, com o esforço que ela havia feito e dedicação que tinha dado, começaram a surgir novas roseiras. Foi a sua força de vontade que a fez nunca deixar de acreditar que no seu objectivo. Foi a sua determinação que a fez ver que nada está perdido quando só resta uma rosa quebrada no jardim. Foi a sua esperança na felicidade que a fez dar tanta dedicação e lutar por aquilo que a ela lhe pertencia. Foi só aí, quando começou a acreditar em si, que conseguiu sair daquelas paredes do seu Palácio e se entregar à sociedade, encontrar o seu grande amor e construir uma família... Afinal, as últimas rosas, nem sempre são aquelas que nos fazem deitar mais lágrimas, podem até nos picar muito mais, mas acabam por ser uma entrada para um grande passo noutro tipo de jardim...
Escrito a Fevereiro de 2006